segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

2ª Parte - A minha adopção!!!



Ao encontrarem-me, D. Fátima e os meus irmãos, que ela mesma tinha adoptado, levaram-me para sua casa e, em seguida, foram em busca de socorro.

Levando-me para o único hospital da pequena cidade onde nasci, o médico imediatamente se assustou com o estado daquele pequeno ser, um pequenino pedaço de gente com seu corpo multilado pelos insectos e formigas que ali se encontravam no local do abandono. D. Fátima foi logo dizendo que me havia encontrado ainda com vida e agarrada ao cordão umbilical, facto que parecia impossivel por terem passado tantas horas depois do parto.

Segundo disseram os médicos, tratou-se de um verdadeiro milagre. Não pedi para nascer assim mas Célia determinou que assim fosse!!! Depois de ter ficado alguns dias no hospital, o médico deu-me alta para ir para casa e disse à D. Fátima que não podia fazer mais, pois era dificil prever se eu sobreviveria a tantos ferimentos e queimaduras deixadas pelo veneno das formigas.

Apesar de tudo, D. Fátima, confiante, trouxe-me para sua casa e, com cuidado, me tratou de acordo com as suas possibilidades. Nessa altura, ela estava viúva e tinha sete crianças em sua casa para sustentar, das quais, cinco eram meus irmãos. Como D. Fátima não tinha um colchão de água para eu repousar, ela deitava-me numa pequenina bacia forrada com folhas de bananeira para não gravar mais as grandes queimaduras do meu corpinho indefeso

A partir daí fiquei conhecida na cidade como sendo a menina da bacia, pois era assim que a D. Fátima me chamava.

A minha irmã mais velha, que na altura tinha 12 anos, ficou encarregue de cuidar de mim, principalmente para mudar-me as fraldas, dar-me banho e mamadeira, enquanto a D. Fátima trabalhava como lavadeira. Apesar da sua pequena estatura a minha irmã foi muito corajosa e esteve à altura de cuidar de um bebé frágil e cheio de problemas de saúde.

Passados alguns dias, sem nenhuma novidade, apareceu lá em casa uma senhora chamada D. Carmem que me levou consigo para adopção, mas que teve de me devolver, conforme já contei no 1º capitulo desta história, por ter, entretanto, ficado grávida e também já ter um outro filho adoptado para cuidar, chamado Samuel, que também é meu irmão.

Então, passados 3 meses, no dia 3 de Abril de 1973, fui finalmente adoptada por um casal que passou a cuidar de mim com toda a atenção e amor e que são hoje os meus pais e a minha vida!!!

A partir desse dia, a minha vida mudou e tomou um novo rumo! D. Elsa e o Sr. João resolveram adoptar-me porque já estavam casados há 7 anos e nunca tinham conseguido ter filhos. De facto, eles não esperavam adoptar uma criança doente e sem muitas hipóteses de sobreviver, mas apaixonaram-se por mim e, a partir desse dia, decidiram apostar na minha recuperação.



Durante o primeiro ano de vida, eu estive sempre doente e longe de ser uma criança normal. Durante seis meses de vida não tomei leite pois o meu estômago não suportava nenhum alimento forte que, tomado, logo passava mal. Então, era alimentada com água de coco, água com açúcar e chá.

Talvez seja difícil de acreditar, mas foi assim que eu sobrevivi. Acredito que mais importante do que aquilo que eu bebia, tenha sido o amor, a dedicação e a vontade da minha mãe adoptiva em me manter viva e me querer ver curada. A minha mãe foi o meu sol... Ela foi a minha luz ao fundo do túnel, por me ter dado forças para vencer a doença e me ajudar a permanecer viva no meio de tanta dor e sofrimento!

Sempre que os meus pais iam comigo ao hospital, o médico dizia que dificilmente eu iria sobreviver e que eu precisava de um atendimento médico mais elaborado que não existia naquela região. Mas eles não desistiram, pois o amor que já tinham por mim era muito grande e não queriam viver a dor de me perder.

À medida que tinham de pagar os tratamentos de que eu necessitava, foram vendendo aos poucos os bens que possuíam, até ficarem praticamente sem nada. Nessa altura, tiveram de passar a morar numa casa emprestada pelo irmão mais velho da minha mãe, que sempre fez de tudo para os ajudar.
Então eles venceram e eu sobrevivi...



O amor dos meus pais adoptivos me alimentou e me pôs de pé para a vida. Eles provaram que vale a pena lutar pelo sonho de serem pais mesmo que eu não tenha saído de dentro das suas entranhas. Acreditaram que eu era realmente a sua filha e sonhavam em ver-me crescer, estudar, formar, namorar e até subir a um altar carregada pelas mãos de meu pai. Sonhavam com os seus netos e com uma linda família, unida e em paz!

Na verdade nem tudo foi assim, mas no decorrer da história saberão porquê...

Eles sabiam que eu era a filha dos seus sonhos, uma criança nascida da prostituição, gerada sem nenhum amor, nascida sem nenhum cuidado e jogada como um animal, mas que agora era a filha querida para o resto das suas vidas!!!



A Célia continuou o seu caminho, e eu passei a seguir o meu!!!!

Com amor, dedicação e determinação vence-se tudo, e eu e os meus pais vencemos!!!!



Agarre as palavras e siga-me...